Entre Códigos de Persistência
Conceitos de Boniteza na Arte, na Pedagogia que Faça Sentido e o Patrono da Educação Brasileira
Resumo
O conceito de boniteza na arte, de modo geral, é o do estético exposto no que se acostumou a designar por “belas letras” e “belas artes”. Isso faz parecer que a peleja nas artes é mar calmo e noite serena. Nenhuma noite é serena sem luar e a lua demanda movimento, aquele que faz referência às forças contrárias em atuação. Este movimento é de outro “senso” de arte e é esse campo (universo) semântico aberto e inacabado que nos interessa cotejar suas bordas. Outro conceito escorregadio e difícil de ser considerado precisamente é o de educação. Para cada paradigma, bem como epistemologia ou cultura, deveria haver uma perspectiva de educação própria. O projeto de educação em prática nas sociedades complexas – aquelas, nas quais um tipo de paradigma se firmou como o hegemônico, tendo como base práticas violentas –, os processos de composição de mentalidades ou de formação (reprodução) de mão de obra podem muito bem não fazer qualquer sentido para aprendizes ou estudantes vindos das classes tidas como submetidas ou no processo de serem – pela lógica dos dominadores. A ideia de submissão guarda algo de “vencidas” ou “extintas”, mas, com um agravante. Parece que foi por consentimento, sem guerra, sem luta, quase que por solicitação. Nesse caso, educação e catequese têm a mesma origem, o mesmo sentido: o de impor formas de como ser e de como pensar aos que estão nos bancos de ensino como se fossem biscoitos doces, mas com uma força avassaladora que, contra a qual, parece não haver escapatória. É a mesma ladainha conhecida nos espaços universitários como o velho discurso dos vencedores. Do lado oposto da moeda, sabe-se também que nenhuma submissão é completa ou inteira, que há sempre a possibilidade de virada de jogo expressa nos códigos de persistências e reminiscência de cantos, rezas e gestos – e por que não de línguas? Códigos estes que perturbam os donos do poder, inclusive do educacional, e fazem com que (re)orientem eternamente os seus discursos matinais, venham de onde venham. São esses códigos também pelos quais orientam-se aqueles que defendem uma pedagogia que não reproduza nem enforme, mas possibilita a transformação, desenhando outra de ensinar que, contém o aprender; e, como a lua e o mar, encontram-se em qualquer processo de trocas. Isso num projeto no qual fazer sentido importa e a perspectiva do educando é considerada. O educador, a escola e o projeto são desafiados a ver por onde se enxerga o mundo. Por isso, este projeto é aquele pelo qual algo é visto pelo lado avesso ao do dominador, podendo, assim, fazer sentido à vida, ao trabalho, à existência do estudante porque inclui acervo nocional fundamental: a existência de quem aprende. Se quem “aprende” não é considerado no processo educacional, a pedagogia em execução não é questionada porque seu contrassenso não é posto em xeque. E seu contrassenso não é visto porque o estudante não é considerado. Sua vida e as dos seus são anuladas. Esse é um ato de violência produzido todos os dias nas salas de aulas. Obviamente, a luta por um processo educacional, o qual seja constituído por projetos pedagógicos transformadores, não é ação de um único homem. Há, contudo, homens de tempos em tempos que conseguem esboçar, expressar e/ou estruturar esses anseios em atos específicos, em projetos estruturados e, por conseguinte, estruturantes de políticas públicas. Nesse sentido, Paulo Freire resume os passos do que queremos tratar aqui por já ter considerado esses conceitos. Veremos, a partir de seu trabalho, os conceitos de Boniteza e de Pedagogia que fazem sentido para a persistência de estruturas literárias além, muito além das belas letras.
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Referências
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