A dicotomia entre mente e corpo e sua influência no uso crescente de psicofármacos na atualidade
Resumen
O presente trabalho aborda o uso cada vez mais acentuado de psicofármacos para o tratamento de transtornos mentais. Entendemos esse fenômeno como parte de outro mais abrangente chamado medicalização, que pode ser descrito como a crescente influência da jurisdição médica sobre a vida humana e seus sofrimentos. Estes, que outrora faziam parte do ato mesmo de viver, têm sido capturados por explicações que os consideram como consequência de uma desordem localizada no corpo ou em órgãos específicos, como o cérebro, no caso de transtornos mentais. No nosso entendimento, o cerebralismo a que nos referimos, disseminado pelo discurso neurocientífico, pode ser entendido tanto pela análise das origens históricas do paradigma científico moderno que sustenta a medicina da forma como a conhecemos atualmente, bem como pela análise do modo de produção capitalista e pela sua ética do trabalho. Seguimos, então, as críticas nietzschianas, no que se refere à filosofia e ciência moderna como herdeiras da tradição filosófica socrática-platônica e do cristianismo. Dessa herança, o que mais nos importa é o desprezo por aquilo se que manifesta no corpo, diga-se afetos, desejos e multiplicidade, valorizando as características relacionadas à alma, tais como controle, razão e unidade.
Descargas
Citas
ANDRADE, L.S.et al. (2018). Ritalina uma droga que ameaça a inteligência. Revista de Medicina e Saúde de Brasília. Disponível em <https://portalrevistas.ucb.br/index.php/rmsbr/article/view/8810>. Acesso em 30 de setembro de 2020.
AZIZE, R. L. O cérebro como órgão pessoal: uma antropologia de discursos neurocientíficos. Trab. educ. saúde (Online), Rio de Janeiro, v. 8, n. 3, p. 563-574, Nov. 2010. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-77462010000300014&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 24 de outubro de 2020. https://doi.org/10.1590/S1981-77462010000300014.
AZIZE, R. L. Uma neuro-weltanschauung? Fisicalismo e subjetividade na divulgação de doenças e medicamentos do cérebro. Mana, Rio de Janeiro , v. 14, n. 1, p. 7-30, Apr. 2008 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93132008000100001&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 17 dedezembro de2020. https://doi.org/10.1590/S0104-93132008000100001.
BICHARA, M. Como Habitar um Não-lugar em Tempos de Crise? Raça e Gênero do “Homo post Pandemicus”. In. Livro de Anais do Congresso ScientiarumHistoria XIII, v.13, 2020.Disponível em: <http://www.hcte.ufrj.br/sh_anais>.Acesso em 30 de abril de 2021.
BURTT, E. As bases metafísicas da ciência moderna. 1ª Edição. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1991.
CAPRA, F. O ponto de mutação. 9ª Edição. São Paulo: Editora Cultrix Ltda, 1993.
CONRAD, P. Medicalization and social control. Annual Review of Sociology, 18, 209-232 (1992) Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/234838406_Medicalization_and_Social_Control>.Acessoem 25 de outubro de2020.
CONRAD, P. The medicalization of society: on the transformation of human conditions into treatable disorders. E-book. Maryland: The Johns Hopkins University Press, 2007
DE GAGE, SB., et al. (2014) Benzodiazepine use and risk of Alzheimer’s disease: case-control study. BMJ 349:g5205 Disponível em:<https://www.bmj.com/content/bmj/349/bmj.g5205.full.pdf>.Acesso em 30 de setembro de 2020.
DINIZ, C. S. G. Humanização da assistência ao parto no Brasil: os muitos sentidos de um movimento. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro , v. 10, n. 3, p. 627-637, Sept. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232005000300019&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 18 de dezembro de2020. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232005000300019.
FEDERICI, S. Calibã e a Bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. Editora Elefante, São Paulo, 2017.
FOUCAULT, M. A Hermenêutica do Sujeito. 3ª Edição. São Paulo: Martins Fontes, 2010a.
FOUCAULT, M. Crise da Medicina ou Crise da Antimedicina. Verve, São Paulo, n. 18, p. 167-194, ago./dez. 2010b. Disponível em: <http://revistas.pucsp.br/index.php/verve/article/view/8646/6432>. Acesso em 17 abril de 2020.
FOUCAULT, M. Em Defesa da Sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 1999a.
FOUCAULT, M. História da Loucura. 9ª Edição. São Paulo: Perspectiva S/A, 2013.
FOUCAULT, M. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro, Edições Graal, 1999b.
FOUCAULT, M.História da sexualidade II: O uso dos prazeres. 8ª Edição. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra. 2020a.
FOUCAULT, M.Microfísica do poder. Rio de Janeiro, Edições Graal, 1998.
FOUCAULT, M.O Nascimento da Clínica. 7ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária, 2020b.
FOUCAULT, M.Os Anormais: curso Collège de France (1974-1975). São Paulo: Martins Fontes, 2001.
FOUCAULT, M.Vigiar e Punir. 20ª Edição. São Paulo: Vozes, 1987.
GUARIDO, R.; VOLTOLINI, R. O que não tem remédio, remediado está?. Educ. rev., Belo Horizonte , v. 25, n. 1, p. 239-263, Apr. 2009. Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-46982009000100014&lng=en&nrm=iso>. Acesso em29 de abril 2021. https://doi.org/10.1590/S0102-46982009000100014.
GRÜNER, E. O Estado: paixão de multidões Espinosa versus Hobbes, entre Hamlet e Édipo. Enpublicacion: Filosofia política moderna. De Hobbes a MarxBoron, Atilio A. CLACSO, ConsejoLatinoamericano de CienciasSociales; DCP-FFLCH, Departamento de Ciencias Politicas, Faculdade de Filosofia Letras e Ciencias Humanas, USP, Universidade de Sao Paulo. 2006. ISBN: 978-987-1183-47-0.
HAN, B. Sociedade da Transparência. Petrópolis: Vozes, 2017a.
HAN, B. Sociedade do Cansaço. 2ª Edição ampliada. Petrópolis: Vozes, 2017b.
HARAYAMA, R. et al.Nota Técnica: o consumo de psicofármacos no Brasil, dados do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados Anvisa. Fórum sobre medicalização da educação e da sociedade. Junho de 2015. Disponível em: <http://medicalizacao.org.br/nota-tecnica/>. Acesso em 25 de outubro. 2020.
HENRIQUES, R. P. A medicalização da existência e o descentramento do sujeito na atualidade. Rev.Mal-EstarSubj, Fortaleza, v. 12, n. 3-4, p. 793-816, dez. 2012. Disponível em:<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-61482012000200013&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 27 de abril 2018.
ILLICH, I. A expropriação da saúde: nêmesis da Medicina. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975.
JUENGST, E.; MOSELEY, D. "Human Enhancement", The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Summer 2019 Edition), Edward N. Zalta (ed.), Disponível em: <https://plato.stanford.edu/archives/sum2019/entries/enhancement/>. Acesso em 19 de dezembro de 2020.
KOYRÉ, A. Estudos de história do pensamento científico. 3ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2011.
MEIRA, M. E. M. Para uma crítica da medicalização na educação. Psicol. Esc. Educ., Maringá , v. 16, n. 1, p. 136-142, June 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572012000100014&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 17 de dezembro de 2020. https://doi.org/10.1590/S1413-85572012000100014.
MOYSES, M. A. A.; COLLARES, C. A. L. Inteligência Abstraída, Crianças Silenciadas: as Avaliações de Inteligência. Psicol. USP, São Paulo, v. 8, n. 1, p. 63-89, 1997 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65641997000100005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 17 de dezembro de 2020. https://doi.org/10.1590/S0103-65641997000100005.
NIETZSCHE, F. Genealogia da moral: uma polêmica. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
NIETZSCHE, F. Crepúsculo dos Ídolos. São Paulo: Companhia de Bolso, 2017.
NIETZSCHE, F. Humano, demasiado humano. 5ª Edição. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
ORTEGA, F.et al . A ritalina no Brasil: produções, discursos e práticas. Interface (Botucatu), Botucatu , v. 14, n. 34, p. 499-512, Sept. 2010 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832010000300003&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 25de outubro de 2020. Epub Sep 17, 2010. https://doi.org/10.1590/S1414-32832010005000003.
ORTEGA, F. Da ascese à bio-ascese: ou do corpo submetido à submissão do corpo. In: RAGO, Margareth et al. Imagens de Foucault e Deleuze: ressonâncias nietzschianas. Rio de Janeiro: DP&A, 2002. p. 139-174. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/323322201_Da_Ascese_a_BioAscese_ou_do_Corpo_Submetido_a_Submissao_ao_Corpo>. Acesso em 25 de outubro de 2020.
ROSE, N. NeurochemicalSelves. Society, 41(1), 46-59 (2003). Disponível em:<https://www.researchgate.net/publication/248141981_Neurochemical_Selves>.Acesso em 25 de outubro de 2020.
RUSSO, J.; VENANCIO, A.T.A. Classificando as pessoas e suas perturbações: a “revolução terminológica” do DSM III. Rev. latinoam. psicopatol. fundam., São Paulo , v. 9, n. 3, p. 460-483, Sept. 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-47142006000300007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 25 deoutubro de 2020. https://doi.org/10.1590/1415-47142006003007.
SILVA DE MELO, T.; DE SOUZA, R. S. B. “Pílula do estudo”: uso do metilfenidato para aprimoramento cognitivo entre estudantes de psicologia da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Revista Ciências Em Saúde, v. 10, n. 2, p. 56-62, 19 maio 2020.
VIEIRA, F. Evolução do gasto com medicamentos do Sistema Único de Saúde do período 2010 a 2016. Brasília (DF): IPEA; 2017. (Texto para Discussão, 2356) Disponível em:<https://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=32195>. Acesso em 30 de setembro de 2020.
WALKER, T.D. Médicos, Medicina popular e Inquisição – A Repressão das Curas Mágicas em Portugal durante o Iluminismo. Rio de Janeiro; Lisboa: Editora FIOCRUZ/Imprensa de Ciências Sociais, 2013.
WEBER, M. A ética protestante e o “espírito” do capitalismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.
WHITAKER, R. Anatomia de uma Epidemia: pílula mágica, drogas psiquiátricas e o aumento assombroso da doença mental. Rio de Janeiro: EditoraFiocruz, 2017.
WILLIAMS SJ, MARTIN P, GABE J. The pharmaceuticalisation of society? A framework for analysis.Sociol Health Illn 2011; 33:710-25. Acesso em 15 de março de 2021.
Todos os artigos publicados na Revista Scientiarum Historia recebem a licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional (CC BY 4.0).
Todas as publicações subsequentes, completas ou parciais, deverão ser feitas com o reconhecimento, nas citações, da Revista Scientiarum Historia como a editora original do artigo.